“Para disfrutar do toureio não bastam os
olhos. Aos que não têm a sensibilidade adequada, escapa-lhes a essência do
mesmo: veem apenas os movimentos exteriores sem perceberem a sua ligação com
uma profunda disciplina, do mesmo modo que as pessoas sem ouvido para a música
conseguem perceber os sons, mas não a sua relação harmónica.”
José Alameda
Praça cheia, grande ambiente e expectativa,
mesmo que nem sempre fosse entendida a relação harmónica entre os sons que
brotavam da arena. Corrida das Festas da Praia com um curro de Rego Botelho (2)
(RB), Casa Agrícola José Albino Fernandes (1) (JAF) e João Gaspar (3) (JG).
Discrepância de números, por ter sido rejeitado um exemplar JAF ao não atingir
o peso fixado (430Kg) no “Regulamento Geral dos Espectáculos Tauromáquicos de Natureza
Artística da Região Autónoma dos Açores”, para corridas em praças de primeira categoria.
Com homenagens começou a tarde: a Luís
Rouxinol pela sua estreia, há 36 anos, numa Corrida realizada no âmbito das
mesmas festividades, ao Grupo de Forcados Amadores da Tertúlia Tauromáquica
Terceirense (GFATTT) pela celebração do seu 50º aniversário e ao Grupo de
Forcados Amadores de Merced (Califórnia-EUA) (GFAM) pela passagem dos seus 15
anos de existência.
Abriu praça um bom exemplar JAF (nº170,
448Kg). Bem rematado, mas escasso de cara, deu boa conta de si e investiu com
som. Luís Rouxinol tirou partido do bom oponente que tinha pela frente e, com
todo o seu conhecimento e recorte toureiro, rubricou uma boa lide a mostrar que
vinha para triunfar. Variado nas escolhas de terreno e correcto nas cravagens,
chegou cedo às bancadas. O seu segundo toiro (JG, nº94, 455Kg) saía desligado
das sortes e tinha pouca transmissão. O Cavaleiro do Montijo palmilhou terreno e
gradualmente foi conseguindo colocar no toiro o que ele não tinha, explorando assim
o pouco que ali havia. Lide correcta e com ligação ao público, terminada com um
par de bandarilhas em terrenos de dentro.
Sónia Matias regressou à ilha Terceira
passados largos anos. Da sua presença fica na retina o soltar do cabelo, em
ambas as lides, e a constante colocação das mãos da montada no estribo da Praça.
Cravagens a aliviar e preocupação com o público…faltou tourear. O “Fidalgo” (JG,
nº5, 433Kg) carregava pouco e foi enquerençando nos tércios, pedindo que lhe mexessem
com os terrenos, já o “Pendular” (RB, nº94, 559Kg) entregou-se à luta,
merecendo outro tipo de lide, para que pudesse expressar o seu comportamento em
pleno. Sobrou toiro. Voltas à arena e música, durante as lides, deveriam acontecer
como prémios para bons desempenhos e não apenas porque…sim!
Para Tiago Pamplona saiu um RB
corpulento (nº5, 522Kg) brocho de córnea. Distraído e ficando-se curto na investida,
não complicou, numa lide em que se viu inteligência e saber. O Cavaleiro
adequou-lhe a lide, obrigou o toiro a ligar-se e saiu em bom plano. A corrida
havia de fechar com um bom exemplar de JG (nº1, 472Kg). Um toiro que foi
crescendo com o desenrolar da contenda, empregando-se e dando boa réplica aos
mandos do cavaleiro. Pamplona desempenhou a função com uma constante ligação ao
toiro. Toureou bem: bregou com correcção e esteve criterioso na preparação das
sortes, pautando as viagens com o ritmo certo. Também desta forma se chega às
bancadas, fazendo vibrar não só quem apenas sente a música, mas também quem
entende a harmonia. Pelo segundo ano a sair em plano de triunfo na Corrida das
Festas da Praia.
Nas pegas estiveram em praça, pelo
GFATT: o jovem João Bettencourt que à segunda efectuou uma boa pega, sendo
muito bem ajudado pelo grupo; João Vieira sentiu o poderio do toiro que teve
pela frente e fechou-se à 3ª com ajudas mais carregadas; João Silva que se fechou
à segunda, depois de ter estado menos bem na cara de um oponente que pedia
contas. Pelo GFAM: João Azevedo (cabo) moralizou o grupo com uma boa pega à
primeira tentativa, tal como haviam de ser as restantes pegas do grupo. João
Vitorino esteve valente numa rija pega e, a finalizar, Aaron Sauer, que apesar
de tropeçar no momento da reunião, fechou-se com querer, sendo muito bem
ajudado pelo grupo.
A corrida foi dirigida, com alguma
condescendência, por Mário Martins, auxiliado pelo médico veterinário Vielmino
Ventura. A abrilhantar, a Banda da Sociedade Filarmónica Recreio Lajense. O
intervalo da Corrida foi animado pela Escola de Pandeiros de Santa Bárbara e os
Aprendizes de São Brás.
Bruno Bettencourt